sábado, 3 de abril de 2010

Amarrar os Sapatos



Um dia depois do outro, nada foi tão importante naquela época quanto aprender a amarrar os sapatos. Chamei minha mãe para que visse minha grande vitória... um tênis conga, preto com solado brando, meias brancas para combinar com o uniforme da pré-escola...
Manhê, olha, eu consegui!
E segui, honrada e vitoriosa rumo ao ponto de ônibus, de mãos dadas com minha mãe, me sentindo invencível... um frio na barriga indescritível para a época, mas viciante!
Eu tenho acordado alguns dias em dúvida, descalça, olhando para os calçados no canto do quarto, me perguntando se vou conseguir colocá-los agora...
Mudei o cenário. Quis fazer e fiz, agora só falta calçar os sapatos...
Como depois de vinte e poucos anos depois, ainda estou aprendendo a amarrar meus sapatos?
Agora eles tem outras formas, não mais um conga preto, nem mesmo é necessariamente um sapato. Uma saudade viva da sensação de vencer, conquistar, aquele frio na barriga, o desafio de juntar os cadarços, dar a volta, puxar, mexer o pé... caminhar firme...

Quando a gente tenta de toda maneira dele se guardar,
sentimento ilhado, morto e amordaçado, volta a incomodar...

Somos quem podemos ser




São 04:58 da madrugada e eu perdi o sono. Uma música virava minha cabeça e me fazia virar de um lado para outro na cama, quase acordando meu namorido.

Acordei me perguntando por que isso ainda me incomodava. Já passaram vários anos...
Ninguém vai conseguir explicar. E esse nem mesmo seria um post... Seria uma confissão se eu...

Um dia vestido de saudade viva, faz ressuscitar (...) quando a gente tenta, de toda maneira, dele se guardar... Sentimento ilhado, morto e amordaçado volta a incomodar.
(Revelação – Raimundo Fagner)

Estou aqui, do jeito que eu queria, me preparando para amarrar meus sapatos. Ao lado de quem eu escolhi. Explica tudo agora?
Não tentem entender. Não escrevi para isso.

Hoje os ventos do destino começaram a soprar...
Nosso tempo de menino, foi ficando para trás
Com a força de um moinho, que trabalha devagar
(Depois de Nós – Engenheiros do Hawaí)